O vexame no jogo contra a Alemanha ainda é muito recente, mas já começam as teorias da conspiração denunciando uma suposta fraude em que os jogadores teriam vendido o resultado. Essa hipótese não sobrevive aos primeiros minutos de reflexão, uma vez que o valor do acordo – 700 mil dólares por jogador, na versão que eu recebi – é pouco mais do que esses jogadores recebem por mês de salário, e certamente menos do que receberiam com campanhas publicitárias decorrentes de uma eventual vitória.
O mais curioso, porém, é que essa teoria, apesar de estapafúrdia, é muito sedutora, pois seria uma forma fácil de nos eximir de uma vergonha, passando para um ódio infinito aos jogadores e dirigentes corruptos. Desta forma, acreditar nessa fantasia é tão fácil como se apegar a uma boia salva-vidas.
Podemos agora dar mais um passo para pensar essa fantasia como um universal da forma com que o neurótico lida com seus traumas. Se fosse verdade que os jogadores venderam o resultado, isso implicaria uma vergonha muito maior, pois somaria ao baixo nível técnico a nulidade moral e o desprezo aos torcedores brasileiros. Enfim, é difícil pensar em um crime mais terrível que um jogador pudesse cometer.
Assim, a criação dessas teorias explicita claramente o mecanismo neurótico para escapar dos seus traumas: para evitar uma dor momentânea, ele cria um enredo trágico que vai lhe transtornar de forma muito mais terrível e pelo resto da vida. Cabe então à análise, seja a freudiana ou a futebolística, o trabalho de apontar onde se deu as fissuras, mas sem os excessos dramáticos, muito mais danosos.
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